Heartless People

Há pessoas que tudo fazem para se livrar dos mais idosos. Vamos nestes termos falar dos pais.

Querem tê-los porque dá jeito, mas não querem trabalho. O dinheiro da fraca reforma sabe-lhes que nem ginjas, mas o raio do Alzheimer do velho dá-lhes cabo do juízo e ainda não existe o velhão onde os largam.

É por isso que existem os lares ou casas de repouso, como lhes queiram chamar. Nos dias de hoje será bastante inevitável que os nossos avós, pais e um dia nós próprios, não venhamos a ser residentes destas tão úteis casas.
É certo que há por aí de tudo um pouco, os bons, os maus e os péssimos lares. Por isso, é que se deve procurar com tempo e muito bem.
Mas depois não é despejar ali e abandonar, há que pagar, há que auxiliar, há que visitar, que continuar a amar.

A minha avó - que é a única que me resta dos quatro avós possíveis, e já tem 93 anos - teve de ir para um lar. Faz por estes dias um ano, que ela lá está e é super bem tratada. Está com Alzheimer em ultimo grau, mas medicamentada consegue ter momentos de muita lucidez. Bastante debilitada, ainda tem por vezes as suas tão características graças.
É mãe de quatro filhos, dois rapazes e duas raparigas, mas neste momento é nos rapazes que se apoia. As filhas usaram-na como lhes conveio toda a vida e abandonaram-na à sorte no hospital, na época de Natal.
É com vergonha que aqui digo que tiveram de ir a tribunal para as obrigar a contribuírem para o lar da mãe, que pouco a vão ver, que não perguntam a ninguém como ela está, até porque uma delas não fala com os irmãos e que nada mais por ela fazem.

O meu pai vai lá todos os dias dar-lhe o jantar, porque de outro modo ela já nem isso comeria, devido à doença. O meu tio também auxilia no que pode e trata dos assuntos burocráticos.
A minha avó recebe neste momento o amor dos filhos homens, de uma nora que o é por segundo casamento e desta neta que nem nunca recebeu muito amor por parte dela. Os filhos daquelas senhoras anteriormente mencionadas é que sempre foram, e dito nas palavras da minha avó “os meus filhos mais novos”, pois ajudou a criá-los.

Mas nem isso me impediu de ontem, com aquela chuva, com aquele frio, com aquele vento, ir visitá-la, dar-lhe um beijo e dizer-lhe: “Gosto de si avó, Feliz Natal”.
Hoje estou aqui a fungar agarrada ao lenço de papel, já tomei um Griponal e vou beber um leitinho bem quente com mel, mas com a alma bem quentinha, porque sei que nada me pesa e que tenha ela feito por mim ou não, tenha ela todos os defeitos, tenha ela feito coisas pouco abonatórias para a minha consideração, tenha ela sido menos boa sogra para a minha mãe, existam tantas e tantas historias que eu já me apercebi que nem sonho sobre o passado desta família e da relação com a minha mãe…ela é minha avó e os meus pais deram-me uma óptima educação.

E custou ver os outros velhotes sem uma única visita neste dia que devia ser o da família.

2 comentários:

  1. Infelizmente há pessoas para quem um familiar idoso não passa de um empecilho. Mas esquecem-se que ao fazerem isso, estão a passar esses valores para os seus descendentes.. e assim pode ser que mais tarde o feitiço se vire contra o feiticeiro...

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  2. Eu passei o dia de natal ao lado da Srª Piedade. Que não teve uma única visita.

    Mas isso são outras conversas :)

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Qualquer coisinha, prometo ler com toda a atenção =)